Santa Teresa completa 2 anos sem bonde
e sem transparência do governo
Moradores temem que patrimônio histórico vire meio de enriquecimento privado

Fonte atualizada em 24/08-2013 às 12h09
Matéria transcrita do Jornal do Brasil
Pamela Mascarenhas

Os bondes de Santa Teresa completam dois anos sem atividade na próxima terça-feira (27/08), desde que um acidente com o bonde 10 matou seis pessoas e deixou mais de 50 feridos. Bondes antigos e novos estão parados desde então no estacionamento da Central. Um dos novos, entregues pela TTrans em 2008 e apelidados de Frankenstein, também ocasionou uma morte. O bairro deve receber 14 bondes "modernos e seguros" até junho de 2014, da mesma TTrans. Sem a circulação de bondes, Santa Teresa se queixa da queda expressiva na visita de turistas e cariocas, com baixa no comércio.

Quando o sistema estiver pronto, no ano que vem, pode ser entregue ao município, como prometeu Cabral em 2011. Engenheiros e ativistas, porém, alertam para a intenção do governo de privatizar o serviço. A Associação dos Moradores e Amigos de Santa Teresa (Amast) pede que o novo bonde respeite a identidade do tradicional e que os antigos voltem a circular. O modelo antigo, aberto e com estribo, é considerado perigoso por alguns, por isso o novo deve ser fechado e com capacidade menor, o que favorece o aumento do custo e a possibilidade de privatização. É certo que haverá uma ligação do bonde de Santa Teresa com o Corcovado, pela estação Silvestre. As dúvidas sobre a municipalização, os motivos da escolha da TTrans, o modelo efetivo dos bondes e o destino dos que estão estacionados pairam no ar e refletem a falta de planejamento e transparência do governo.

Neste sábado, a Amast realiza o Ato de Luto e de Luta, às 15h, no Largo do Guimarães. A ação conta com apresentação de artistas e blocos de carnaval, como Carmelitas. No próximo domingo, às 11h, na Igreja Anglicana, haverá homenagem à memória do motorneiro Nelson e de todos que morreram nos acidentes. Na terça-feira, quando os dois anos sem bondes serão completados, haverá protesto em frente à residência do governador Sérgio Cabral, o "Bonde ocupa Cabral", às 16h.

O projeto dos novos bondes, de acordo com a Companhia Estadual de Engenharia de Transportes e Logística (Central), responsável pelo serviço, foi produzido pelo governo, não pela TTrans. A assessoria do governo informa que o novo modelo foi desenvolvido a partir de informações trocadas entre a Carris de Lisboa e a Central, com a participação do Instituto Estadual do Patrimônio Cultural do Estado do Rio de Janeiro (Inepac). Destaca ainda que ele preserva “características estéticas tradicionais” dos bondes antigos, como a identidade visual, as dimensões e as cores. Algumas alterações teriam sido inseridas, apenas para “tornar o transporte muito mais seguro”.

Os novos bondes já foram contratados e estão em fase de fabricação. A antiga rede aérea começou a ser substituída e a via permanente é preparada para receber os novos trilhos bilabiados. "O sistema de bondes de Santa Teresa será entregue à população totalmente modernizado no final do primeiro semestre de 2014", promete o governo.

Schwarzstein, diretor de Transportes da Amast, pede preservação dos bondes históricos
Sobre a municipalização, a assessoria informa que o Governo do Estado discute com a Prefeitura a "possível transferência da operação do sistema para o Município do Rio". Já sobre os bondes estacionados, informa que haverá uma avaliação técnica futura para definir o que será feito. Jacques Schwarzstein, diretor de Transportes da Amast, comentou que já ouviu do Inepac que existe a intenção de colocar os bondes antigos em um museu. O JB entrou em contato com a assessoria do Inepac, mas não recebeu resposta até o fechamento. A assessoria da Central, por sua vez, reforça que o objetivo é readaptar o sistema dos bondes antigos, para que, aos poucos, eles sejam reintegrados à frota, de acordo com as necessidades.

Schwarzstein aponta Sérgio Cabral como o “imperador” que muda de ideia de acordo com o seu humor, sem levar laudos técnicos em consideração. Exemplo disso seria a decisão de desistir da demolição dos estabelecimentos ao redor do Maracanã, como aEscola Friedenreich, dando a entender que a proposta inicial não foi baseada em planejamento ou análise séria.

Eu não acredito que Sérgio Cabral queira levar consigo o título de homem que enterrou vivo um patrimônio histórico “Foi um acordo tácito: o estado recupera o sistema e o entrega ao município. O normal seria municipalizar. Não tem por que o estado ser responsável pelo transporte. (Sobre os bondes estacionados) não sabemos nada sobre o que será feito. O governo do Estado não publica inventário. Se ele não quer fazer nada com esse patrimônio, pode surgir algum que queira. Esses bondes circularam por mais de cem anos e, nos últimos, causaram esses acidentes. O sistema ainda tem vitalidade, mas foi sucateado. Por uma quantia muito inferior à gasta com o novo projeto, os bondes antigos poderiam voltar a funcionar. Eu não acredito que Sérgio Cabral, filho do Sérgio Cabral pai, um homem das artes, queira levar consigo o título de ser um homem que enterrou vivo um patrimônio histórico”, declarou Schwarzstein, sobre o abandono dos bondes antigos. Sobre a divulgação de um inventário, o governo informa que este foi atualizado e encaminhado ao Ministério Público Federal, e que deve ser apresentado à Amast em reunião com a Central na próxima quarta-feira (28/08).

Para Marcô, morador famoso no bairro e proprietário de restaurante de mesmo nome, dois anos de Santa Teresa sem bonde, são dois anos de Santa Teresa sem alma. “Alguns querem o modelo antigo de bonde, outros querem o novo. Vai ser sempre uma polêmica. Mas a ausência do bonde é só um dos reflexos do descuido das autoridades com o patrimônio do bairro. Simplesmente, eles abandonaram. O bonde era sempre utilizado pela publicidade do estado como cartão-postal, mas não recebia investimento do mesmo”, afirma.

Manuel Carlos, também morador de Santa Teresa, acredita que o novo modelo, por diminuir a capacidade dos bondes, os inviabiliza como meio de transporte público, facilitando a transformação do serviço em algo puramente turístico. “Como terá uma capacidade menor, será menos rentável, e aí, privatizam e fazem algo mais voltado aos turistas, com preços mais caros”.

Enquanto os bondes novos não chegam e os estacionados não são reparados, moradores reclamam do maior número de acidentes no bairro. Aumentou o volume de carros e ônibus circulando em alta velocidade. O deputado federal Chico Alencar (Psol), em outra ocasião, ressaltou que, justamente pelo aumento de acidentes no bairro, o bonde se configura como essencial para a população, não podendo, portanto, ser entregue a projetos voltados unicamente ao lucro.

Recentemente, uma senhora faleceu ao ser imprensada por um ônibus contra a parede, em uma rua estreita. A Central informa que, com o retorno dos bondes, os ônibus serão eliminados aos poucos.

TTrans, o Frankstein e a promessa dos bondes seguros


Antes do acidente que matou Nelson Correa, Claudia Fernandes, João Batista Soares, Ivone da Silva, Maria Eduarda Nunes e Alcides de Abreu Gonçalves, deixando outras 56 feridas, outros acidentes já tinham acontecido. Um deles foi o que causou a morte do turista francês Charles Damien, que caiu dos Arcos da Lapa ao tentar tirar uma foto – a grade de segurança não resistiu ao peso do rapaz. De acordo com o diretor de Transportes da Amast, essa rede de segurança estava solta, por isso mesmo não poderia resistir. O outro foi o da professora Andreia de Jesus Resende, de 29 anos, que morreu atropelada ao saltar de um bonde entregue pela TTrans, que perdeu o freio numa ladeira.

Segundo Luis Cosenza, presidente da Comissão de Segurança do CREA e ex-presidente da Central, o freio utilizado pelo tal Frankenstein era de última tecnologia, no entanto, foi utilizado de forma inadequada pela TTrans. O contrato da TTrans para entrega de novos bondes antes do acidente, inclusive, foi considerado ilegal pelo Tribunal de Contas do Estado em 2009. Dos 14 trens que havia prometido, a empresa ainda entregou apenas sete. Não se sabe o que aconteceu com os outros.

Quantos aos acidentes com os bondes antigos, se o governo estadual tivesse cumprido a sentença judicial de 24 de agosto de 2009, que o condenou a recuperar integralmente o sistema de bondes históricos, eles poderiam não ter acontecido. Os avisados do governo foram blindados da acusação de morte, mas os funcionários do bonde, que há tempo improvisavam uma manutenção na ausência do Estado, foram responsabilizados. "A falta de recurso para manutenção não era culpa dos mecânicos, ninguém faz milagre sem material, sem dedicação dos responsáveis. O Brasil já tem essa tradição. As pessoas gostam muito de criar obras, mas não de realizar manutenção, salvo raras exceções. Mas as pessoas estavam ali transportando vidas", comentou Cosenza.

Antes de construir os 14 novos, tem que se dizer o que vão fazer com os outros. Isso é dinheiro público
Procurado para comentar sobre o assunto, o governo informou que não cabe a ele "comentar uma ação judicial que ainda está em andamento". Sobre a contratação da TTrans, sem projeto e com contrato anterior declarado ilegal, respondeu apenas que“a empresa venceu a licitação porque apresentou todos os requisitos técnicos e o menor preço”. O JB não conseguiu entrar em contato com a TTrans.

"Nós fizemos um documento que alertava para o erro do projeto da TTrans. Quando pararam de circular, os bondes entregues em 2008 ainda estavam na garantia, sob a responsabilidade da empresa. O Estado não se posicionou até hoje sobre eles. Por que eles não continuaram operando se o Estado entendeu na época da contratação do serviço que eles eram seguros? O Estado comete um novo erro novamente. Antes de se construir os 14 novos, tem que se dizer o que vão fazer com os outros. Isso é dinheiro público. A gente vê o bairro com uma perda de mais 50% no comércio e o estado não se posiciona", enfatiza Cosenza.

Retorno dos bondes tradicionais


Os bondes centenários de Santa Teresa foram tombados como bem cultural em 1988 pelo Inepac e, desde o acidente, estão estacionados sem promessa efetiva de restauração ou preservação. “Os bondes encontram-se devidamente parqueados na oficina/garagem, protegidos da ação do tempo, com exceção de um que se encontra à disposição do público, para visitação, na Estação Carioca dos Bondes”, informa a assessoria.

Para Cosenza, os bondes antigos poderiam voltar a circular, desde que passassem por uma reforma geral, já que eles não estavam em condições de operação segura. Nada impedia, no entanto, que os novos modelos de bonde seguissem os tradicionais, de estribo e aberto. “A engenharia tem solução para isso. Poderia ser instalado, por exemplo, um sensor de carga, que faria o bonde parar quando um passageiro chegasse no estribo. Viajar no estribo não é a segurança que se deseja”.

Vicente Sabato, morador de Santa Teresa há 65 anos e ex-presidente da Amast, reforça a necessidade do modelo antigo de bonde. Lembra a tentativa de implantação de bondes fechados durante o primeiro governo de Leonel Brizola, na tentativa de diminuir os assaltos. A incidência do crime, no entanto, aumentou, e o então governador se viu forçado a voltar com o modelo aberto, com estribo.

Domingo da Silva, morador de Santa Teresa e artista plástico que comercializa suas obras em um ateliê no bairro, afirma que o movimento de clientes em seu estabelecimento caiu 80% com a suspensão dos bondes e que, só agora, o movimento melhora um pouco. “Está voltando ao normal, mas ainda não voltou. Muitos turistas vinham a Santa Teresa só para conhecer o bonde. Na hora do almoço, muitas pessoas que trabalhavam no Centro subiam para almoçar aqui. Era comum ver os restaurantes com filas enormes. Agora, isso não acontece mais. O bonde era a alma de Santa Teresa. Está fazendo muita falta”.

Márcia Pinnola mora em Santa Teresa desde que nasceu e se emociona ao falar dos bondes tradicionais. “Queremos o bonde aberto. Mas, mais do que tudo, queremos o bonde de volta. No final de semana, Santa Teresa ficava muito cheio, muito alegre quando eles circulavam. Agora, eles estão com esse modelo de Portugal, que parece ser um serviço mais para turistas do que para os cariocas. Mas, antes de ser dos turistas, ele é nosso bonde. Não queremos que ele tenha um preço de serviço turístico”.



Bonde com acesso para deficientes

Projeto de bondinho de Santa Teresa prevê facilidade para cadeirantes

Fonte: CHRISTINA NASCIMENTO

Previsto para voltar a circular somente em 2014, o bonde de Santa Teresa promete ser inovador em pelo menos em um quesito: acessibilidade. Se o projeto que prevê um espaço no meio do corredor dos carros para cadeirantes sair do papel, o Rio terá o primeiro bondinho do mundo adaptado para portadores de necessidades especiais.

A ideia é que o cadeirante acesse o bonde por um elevador, que ficará em alguns pontos de embarque e desembarque do bairro. Para isso, seria colocada porta na lateral do carro. A proposta, no entanto, precisa de aprovação do Inepac (Instituto Estadual do Patrimônio Cultural) e do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). A resposta deve ser dada até o fim do mês.

Outra novidade em fase de análise é que, em vez de apenas um bondinho circular, dois fariam o trajeto. Os carros ficariam acoplados. Um teria acessibilidade e outro, não. “Estamos estudando essa possibilidade de acessibilidade, mas ainda não é algo que foi fechado. O Inepac está nos acompanhando neste processo. Com o elevador, o design do bonde não será afetado tanto. Além disso, eles já circularam acoplados no passado”, explicou o presidente da Central Logística do governo do Estado, Eduardo Macedo.



Para adaptar um bondinho tradicional, será necessário fazer um reforço na sua estrutura. A acessibilidade não era uma exigência do edital de licitação, mas foi colocada como uma possibilidade para que o veículo seja ‘politicamente correto”. De acordo com Massimo Giovanna, presidente da TTrans — empresa que ganhou a concorrência pública para fabricar os 14 bondinhos que vão circular em Santa Teresa —, a adaptação não trará nenhum custo adicional ao projeto.

“Assim que os órgãos responsáveis aprovarem as alterações para cadeirantes, entregaremos o primeiro bonde em seis meses. Os restantes vão ficar prontos um a cada mês”, afirmou Giovanna, que formou equipe multidisciplinar para o projeto pioneiro. Nesta segunda-feira, o governo do Estado afirmou que não haverá suspensão da revitalização dos bondinhos de Santa Teresa com a perda dos royalties.






Pesquisa detalhada sobre o bairro de Santa Teresa realizada em 10/04/2008, praticamente nada mudou a não ser a polemica sobre os bondinhos.

Chácaras do passado. Santa Teresa era originalmente um conjunto de chácaras, que foram retalhadas para urbanizar o lugar. Veja maiores detalhes !


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