Convento de Santo Antonio


Tesouro que reluz
FONTE: Veja Rio - 25/01/08
Carlos Henrique Braz

Em seus quatro séculos de existência, o Convento de Santo Antônio foi palco de inúmeros acontecimentos marcantes.

Ali, frei Vicente de Salvador escreveu no século XVII História do Brasil, o primeiro livro sobre o tema feito por um brasileiro, e o recém-canonizado frei Galvão ordenou-se padre, em 1762.

Também abrigou acontecimentos políticos, pois lá se redigiram o discurso do Dia do Fico, lido por dom Pedro I no Paço Imperial em janeiro de 1822, e o esboço da primeira Constituição do país, no ano seguinte.

Sua importância histórica passa despercebida pelos milhares de pedestres que atravessam apressadamente o Largo da Carioca, no Centro, e vêem o imóvel no alto do que restou do Morro de Santo Antônio após sua demolição.

O complexo religioso – que além do convento e templo homônimos reúne a Igreja de São Francisco da Penitência – guarda imagens, talhas e altares que são preciosidades sacras.

Às vésperas dos 400 anos do lançamento da pedra fundamental do convento, feito no dia 4 de junho de 1608, esse tesouro tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) passa por ampla restauração.

Orçado em 37 milhões de reais, o projeto tem sua execução dividida em quatro etapas, com término previsto para dentro de quatro anos.

Mas já são visíveis os resultados da fase preliminar do trabalho, que envolve a recuperação do telhado do convento e do altar-mor da Igreja de Santo Antônio.

"Pretendemos aprontar a primeira reforma até junho, para as comemorações do quarto centenário", afirma Clemente Nigri, engenheiro responsável pela obra.

Na seqüência, a idéia é restaurar as demais áreas da nave, ladeada por painéis e azulejos com cenas da vida do santo casamenteiro, a sacristia, as capelas laterais, os nichos do claustro e o confessionário.

O complexo tem área total de 31.500 metros quadrados. "A inovação vai ser a abertura do Caminho da Paz Franciscana, no alto do morro.

Trata-se de um calçadão cercado por jardins e bancos de madeira destinados à meditação", diz Ana Lúcia Pimentel, coordenadora do projeto, à frente de uma equipe de dez consultores – arquitetos, museólogos e historiadores –, oito restauradores e trinta pedreiros.

Ex-conselheira do Iphan, Ana Lúcia também foi responsável pelas reformas da Igreja de Santa Luzia, em 1997, do Palácio Gustavo Capanema, em 1998, e da Igreja de São Francisco da Penitência, em 2000.

Aberto à visitação, o magnífico templo franciscano, concluído em 1773, é uma relíquia barroca com talhas folheadas a ouro realizadas pelos artistas portugueses Manuel de Brito e Francisco Xavier de Brito.

"Sempre que se fala em história da arte no Brasil, a igreja é citada como referência", destaca a coordenadora.

As ações no morro incluem ainda a criação do Museu Franciscano, para abrigar o acervo do Museu de Arte Sacra.

Elaborado pelo arquiteto Chicô Gouveia, o projeto prevê a construção de um edifício com três pavimentos, todo de aço e vidro, a ser erguido ao lado da Igreja de São Francisco da Penitência.

"Estamos trabalhando desde 2004 para inserir um elemento moderno em uma edificação do século XVIII", diz Chicô, que fez três viagens a Portugal para pesquisar sobre o barroco.



Convento de Santo Antônio vai abrir aqueduto dos Arcos a visitantes e terá museu
FONTE: O Dia - 23/2/2008
Élcio Braga

Graças a Deus — e nisso até os ateus concordam — o Rio redescobre a beleza de seu passado. As restaurações de dois templos da fé carioca iluminaram construções, pinturas e esculturas que se julgavam desaparecidas há séculos. No Convento de Santo Antônio, no Largo da Carioca, arqueólogos desenterraram trecho do aqueduto que trazia água dos Arcos da Lapa. O túnel deverá ser aberto à visitação. No Mosteiro de São Bento, na raspagem das paredes, descobriu-se pintura antiga mais leve e agradável. O Rio Antigo voltou a brilhar.

A reforma no Complexo de Santo Antônio, que completa 400 anos em 4 de junho, inclui a recuperação da igreja e do convento, abertura de um museu de documentos e peças históricas da cidade, a construção de prédio de três andares para abrir museu de arte sacra e término da restauração anterior da Ordem Terceira de São Francisco. As obras começaram em setembro e consumirão R$ 3 milhões na primeira etapa. A previsão é gastar R$ 37 milhões ao longo de quatro anos.

“Tão logo se acabe este trabalho, vamos oferecer ao carioca e ao povo brasileiro a visitação de um conjunto arquitetônico da mais alta importância da cidade”, destaca Ana Lúcia Pimentel, coordenadora-geral do projeto de restauração.

O prefeito Cesar Maia visitou o local quinta-feira e ficou impressionado. Saiu de lá prometendo convênio para reeditar a obra do Frei Basílio sobre a história do convento e recuperar livros, atlas e peças arqueológicas.

Um dos atrativos que o complexo cultural deverá oferecer é a visitação ao túnel do aqueduto. A água era distribuída à população no Largo da Carioca.

O aqueduto tem em torno de 1,80 m de altura e 50 cm de largura, revestido por paredes de tijolos e reboco. É possível caminhar por trecho de cerca de 30 metros, debaixo do prédio do convento. O restante do caminho que alcançava os Arcos da Lapa está obstruído por construções modernas, como o prédio do BNDES.

Os estudos para a construção do aqueduto começaram em 1602. Moravam na cidade em torno de 3 mil pessoas. A obra ficou pronta só em 1723. Uma reforma foi concluída em 1744 e lhe conferiu maior solidez.

RESTAURAÇÃO DE R$ 5 MILHÕES

No Mosteiro de São Bento, mais descobertas. A restauração começou em novembro de 2004. Já estão prontos, com gasto de R$ 5 milhões (verba do BNDES, Petrobras e Furnas), o altar-mor e a troca do telhado e das instalações elétricas e de iluminação, além da descupinização. Nos próximos dias, termina a reforma da capela do Santíssimo Sacramento e a capela-mor.

O acervo de quadros passa por delicada restauração. “As pinturas são do final do século 17, feitas pelo monge Ricardo do Pilar”, diz o reitor da igreja, Dom Paulo Azeredo Coutinho. Em reforma do século 19, algumas pinturas originais foram cobertas. Na atual restauração, partes delas voltaram à tona e serão mantidas.

Os beneditinos ganharam terreno para construir o mosteiro em 1590. As obras só começaram em 1633. A igreja tem várias fases de arte: Renascença e Barroco, Talha Barroca e o Rococó.




Reformas da Igreja até 1973

Depois da morte de Frei João do Amor Divino Costa, Frei Diogo Freitas sentiu-se livre para agir e fazer o que as circunstâncias e as dificuldades de toda sorte lhe permitiam.

Começou pela reforma do telhado, cobrindo-o com telhas francesas.
Aos 13 de junho de 1911 inaugurou a luz elétrica.
Até o ano de 1920 colocou o novo tabernáculo e as novas banquetas no altar-mor e retirou as lajes das sepulturas da Igreja e assoalhou-a com madeira.

Os anos de 1920 a 1926 são os de grandes restaurações empreendidas sob a direção de Frei Inácio Hinte.

Infelizmente faltou-lhe orientação histórica e artística.

Renovou a madeira do telhado alteando-o cerca de dois metros.
Deu forma de abóbada ao teto em vez de restituir-lhe a forma de caixão.
Elevou, porém, a parte central na mesma posição horizontal e no centro colocou uma clarabóia.
Abriu um arco na parede à esquerda de quem entra para instalar a capela do Bom Jesus.
Demoliu e reconstruiu o coro, encurtando-o em três metros e vinte centímetros.
Substituiu a madeira do soalho por ladrilhos.
Avançou a mesa da Comunhão um metro para a frente.
Restaurou os ornatos de talha.
Juntou a mesa do altar-mor ao trono.
Por ter levantado o teto, mandou fazer nova talha para o frontispício do arco-cruzeiro, conservando apenas o escudo com os braços cruzados de Cristo e de São Francisco.
Trocou as imagens antigas dos altares laterais por modernas.
Retirou a barra de azulejos, cedendo-os à Casa Martinelli em troca de uma barra de gesso imitando mármore e uma via-sacra embutida nas paredes.
Restaurou o púlpito situando-o mais na frente e em posição mais baixa.
Colocou vitrais nas janelas do coro.
Mandou decorar as paredes e o forro com desenhos e pinturas.

Modificou a fachada da Igreja. Mexeu portanto em tudo.

Com todas estas reformas, a Igreja ficou extremamente deformada.

Felizmente o jovem guardião Frei Oscar Moch teve a inspiração e coragem de restituir-lhe, na medida do possível, o seu aspecto original.
Sob a orientação dos arquitetos Dr. Lúcio Costa e Dr. Orlando Reis, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, começou os trabalhos aos 15 de junho de 1953.

As paredes foram raspadas, a via-sacra e a barra retiradas. O teto, depois de rebaixado o seu centro, foi pintado a óleo por pérola.
As cimalhas foram douradas e as caixas do órgão, fixadas nas paredes, receberam ouro sobre azul.
Todas as talhas dos altares e da capela-mor, que, por desgaste de ouro e falta de recursos estavam pintadas a tinta, foram restauradas e douradas.

Durante a limpeza constatou-se que a base da talha da capela-mor era pintada de vermelho, enquanto que a dos altares laterais e do púlpito de azul.

Em tudo foi restituída a forma primitiva.
Também os painéis da capela-mor, da sacristia e da sala do Capítulo foram restaurados por técnicos do Patrimônio.
Na mesma ocasião, foram trocados os ladrilhos do piso da Igreja por mármore.

Em 1972, sob o guardianato de Frei Armindo Ferreira de Oliveira, foram novamente restaurados o púlpito, o arco que dá para a capela do Bom Jesus, os retábulos nas janelas e foi adornado e dourado o altar central.

Em 1973 novamente foram pintados o forro e as paredes, sendo que estas levaram uma barra a óleo.

FONTE: Frei Albano Marciniszyn, OFM





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