Oratório da Nossa Senhora
do Cabo da Boa Esperança
Diversos relatos
No Centro do Rio de Janeiro, um bem tombado pelo Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (Iphan) está abandonado.
É o Oratório de Nossa Senhora do Cabo da Boa Esperança, uma relíquia do
século 18 cercada por tapumes há 13 anos.
Rua do Carmo, Centro do Rio.
Você sabe o que funcionava bem ao lado do prédio que um dia foi a Real
Biblioteca, um antigo recanto da cidade? Tem carioca que arrisca.
“Não faço a mínima idéia”, reconheceu um rapaz.
“É a secretaria da Igreja do Carmo”, disse um senhor.
“É um museu?”, perguntou um rapaz.
O espaço é do Oratório da Nossa Senhora do Cabo da Boa Esperança,
construído em 1763.
De estilo barroco, o oratório é um marco cultural rico de estrutura.
As pedras gnaisse são brasileiras. Os azulejos e mármore, portugueses.
O portão de ferro é do século 18.
No Rio Antigo, antes da chegada da família real em 1808, existiam 79 oratórios
na cidade. Os locais eram freqüentados pelos fiéis que faziam suas orações,
pedidos e agradecimentos.
Hoje, restam apenas dois oratórios na cidade.
O da Nossa Senhora do Cabo da Boa Esperança é um deles.
Em uma das paredes, existe uma abertura. Nela, havia uma caixinha onde
os marinheiros portugueses, que seguiriam para o Oriente, deixavam oferendas
para Nossa Senhora do Cabo da Boa Esperança.
Eles pediam proteção para a travessia do Sul da África e muitos voltavam
para agradecer o sucesso da viagem. Uma lembrança da época das grandes navegações.
Mas o oratório, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (Iphan) está abandonado.
Segundo o historiador Milton Teixeira, os tapumes de madeira foram colocados
há 13 anos e correm risco de cair.
Faltam conservação e cuidado com um dos patrimônios da cidade.
“Uma peça pequena, que pode ser restaurada em alguns dias, com certeza,
mas está cercada de tapumes há 13 anos.
É triste, porque o carioca fica privado de ver esse bem cultural”, lamentou
o historiador Milton Teixeira.
O carioca que costuma passar pelo Centro da cidade gostaria de ver uma
imagem bem diferente dessa.
Gostaria de ter de volta um símbolo que faz parte da história.
“A gente fica até triste com uma situação dessa. Eu gostaria que fosse restaurado”,
disse uma mulher.
O Iphan informou que o Oratório de Nossa Senhora do Cabo da Boa Esperança
já tem um projeto de restauração aprovado, mas ainda falta a captação
de recursos para que as obras comecem.
O outro oratório que ainda existe no Rio fica na entrada do
Convento de Santo Antônio, no Largo da Carioca.
Segundo o historiador Milton Teixeira, este está em bom estado de conservação.
ORATÓRIOS ABANDONADOS
Históricos de Jorge Mittidieri
Muito se pode contar sobre os Oratórios na cidade do Rio de Janeiro.
Como na época colonial as ruas eram pouco iluminados diversos oratórios
foram erigidos em locais da cidade.
Eles além de iluminarem um pouco as ruas, eram alimentados com óleo de baleia,
congregavam os fieis para orações às primeiras horas do anoitecer; uma vez
que não se tinha nenhuma maneira de lazer, se é que se pode assim dizer,
as cerimônias litúrgicas e os atos de culto eram quase que as únicas
amenidades que podiam quebrar a monotonia de uma vida de trabalho e
reclusão em casa. Os Oratórios, além da iluminação, propiciavam um encontro
com outras pessoas, além de fazerem as orações.
De alguns deles podemos contar algumas
histórias.
No governo de Luiz de Vasconcelos, contavam-se setenta e três Oratórios
nas esquinas das ruas cariocas É pena que talvez um dos únicos remanescente
esteja abandonado e está na Rua do Carmo 38.
O ORATÓRIO NO ARCO DO TELES
Oratório de N.Sra. dos Prazeres
Outro, do qual podemos falar, é do Arco do Teles (Praça XV).
Na entrada do Arco, existiu um dos pequenos oratórios, e nesse, venerava-se a
imagem de Nossa Senhora dos Prazeres.
Esse Arco foi, por muito tempo local de mendigos e vagabundo, e tão
escandalosas eram as cenas presenciadas pela imagem que, revoltado com
a profanação, um dos moradores da região, tomou a iniciativa de
remover a santa imagem, para a Igreja de Santo Antônio dos Pobres, onde lá se
encontra até hoje.
Muitas histórias são contadas sobre o Oratório de N.S. dos Prazeres como
o de que, além de ser o local refúgio de mendigos, vagabundos e malandros
da pior espécie, ladrões, assassinos, prostitutas e arruaceiros, lá
viveu a Bárbara dos Prazeres, famosa na época de D. Pedro I, e que lá
costumava abrigar-se, depois que ficará leprosa.
Tinha seus métodos de cura para a sua Lepra, e que eram bárbaros e sujos.
Passava pelo corpo o sangue dos cães e gatos que matava, e ficava de guarda
na Roda dos Expostos, local onde se colocavam crianças abandonadas pelas mães,
para roubar os recém nascidos nela deixados e levá-los para longe a fim
de chupar o seu sangue, isso valeu o apelido de “ONÇA”.
O ORATÓRIO QUE DEU ORIGEM A IGREJA
N. Sra. da Lapa dos Mercadores
E como estamos falando dos velhos Oratórios, devemos comentar de
um que durou mais do que cem anos. Em frente à Praia do Peixe, nos fundos
da Igreja da Cruz (Rua do Ouvidor junto a Igreja da Cruz dos Militares) lá
pelos fins do século XVII.
Nesse local, um grupo de mercadores, negociantes estabelecidos, abriu
um nicho, e nele colocaram as imagens do Menino Deus e de N.S. da Lapa.
Seja pela força da imagem, ou proteção da Virgem, os negócios prosperaram
muito, e que levou a que se erguesse a Igreja da Lapa dos Mercadores.
ORATÓRIO NA PASSAGEM DE DUAS IGREJAS
Oratório de Nossa Senhora do Cabo da Boa Esperança
Aproveito para transcrever um trecho do livro do Vivaldo Coaracy " Memórias
da Cidade do Rio de janeiro" (1988):Pág. 238.
" Antes porém, de encerrar essas breves notas sobre a Igreja do Carmo não é
permitido deixar de mencionar o oratório que se vê sobre o portão da passagem
das duas Igrejas , na Rua do Carmo.
Muita gente passa por ali sem o ver, sem mesmo saber que existe.
É, entretanto, uma das preciosas relíquias da cidade. Consagrado a Nossa
Senhora da Boa Esperança, é o último dos oratórios que, na velha cidade colonial,
congregavam, às primeiras horas da noite, em certos dias da semana, um grupo
de fiéis para rezar o terço ou recitar a ladainha.
As Lâmpadas que a devoção mantinha acesas todas as noites nesses oratórios
constituíram por muitos anos a única iluminação das antigas ruas.
Pouco a pouco, com a simultânea chegada do progresso e declínio da devoção,
os oratórios foram desaparecendo um após outro. Hoje resta um só: aquele que
se vê na Rua do Carmo.".
A imagem original se encontra na Igreja da Ordem Terceira do Carmo - Rua
Primeiro de Março - na sacristia e é belíssima..
MARCOS DO DESCOBRIMENTO
NO RIO DE JANEIRO
Histórico do Prof. Milton Teixeira
TÚMULO DE CABRAL

Faltando pouco mais de duzentos dias para a comemoração do quinto
centenário da descoberta do Brasil muitos cariocas desconhecem existir na cidade
do Rio de Janeiro dois importantes marcos da era dos grandes descobrimentos.
O primeiro deles é o túmulo que guarda os resíduos mortuários do capitão-mór
Pedro Álvares Cabral, descobridor do Brasil, depositados desde 30 de
dezembro de 1903 no corredor esquerdo da Igreja de Nossa Senhora do Carmo
da Antiga Sé, na rua Primeiro de Março, defronte à Praça XV.
A história destes restos é, no mínimo, curiosa. O jazigo de Cabral, perdido
desde o século XVI, foi localizado em 1839 por um brasileiro, o diplomata
e historiador Francisco Adolfo de Varnhagem, Visconde de Porto Seguro,
no piso da Capela de São João da Igreja do Convento da Graça em Santarém, Portugal,
onde estava desde 1526.
Em 1871 o Imperador D. Pedro II, quando visitou o túmulo, duvidou de
sua autenticidade. Para tirar a prova, arqueólogos lusitanos o abriram em 1882,
onde, para surpresa geral, encontraram três esqueletos inidentificados.
V
Nada foi tirado e a campa foi novamente fechada.
O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro insistiu na exumação e, em 1903,
mandou a Portugal com esse intento o historiador Bacharel Alberto de Carvalho que,
com ajuda de arqueólogos lusos, procedeu a nova exumação em 14 de março do mesmo ano.
Qual não foi o espanto de todos em encontrar não três, mas seis esqueletos adultos,
fora os de uma mulher e uma criança.
Como foi impossível determinar qual deles era o de Cabral, recolheu-se um pouco
de cada esqueleto adulto mais um punhado de terra, e é esse “sétimo esqueleto”
que se encontra hoje na Igreja do Carmo.
Oratório de Nossa Senhora do Cabo da Boa Esperança
O outro marco dos nossos quinhentos anos é o raro e belo oratório de Nossa
Senhora do Cabo da Boa Esperança, erguido a 235 anos atrás num beco entre
a Igreja do Carmo e a da Ordem Terceira Carmelita, na rua do Carmo n. 38.
O Cabo da Boa Esperança, antigo das “Tormentas”, era ponto de passagem obrigatório
das caravelas portuguesas no sul da África com destino ao oriente.
Desde o século XVIII, todo navio português com esse destino antes aportava
no Rio de Janeiro, onde a marujada saltava e ia em romaria até o oratório da
rua do Carmo pedir à santa proteção para a travessia, deixando lá algumas moedas.
Por sua vez, quando o navio percorria o sentido inverso, igualmente aportava aqui,
indo os marujos agradecer a boa travessia no oratório citado, deixando lá
alguns cobres.
Este antepassado dos seguros marítimos criou uma tradição que se manteve viva
por mais de cem anos e não foi à toa que o oratório foi dos poucos que
sobreviveu às demolições na cidade.
Verdade seja dita, andou um pouco. Construído no beco em 1763 pelo mestre
Manoel Alves Setúbal para a Ordem Terceira do Carmo, foi transferido em 1812
para a esquina seguinte, onde hoje se abre a rua Sete de Setembro,
retornando ao sítio original em 1924.
Em 1948 foi erguido ao seu lado um prédio de escritórios, onde, como se
fosse uma sina local, estão ali sediadas a Associação Nacional de Transportadores
de Turismo, a Associação Brasileira de Jornalistas Especializados em Turismo,
A Turistrade e a Marc Apoio Consultoria e Treinamento em Turismo.
Isso é que é um oratório com tradição em viagens!
Milton de Mendonça Teixeira.