AS BOTAS DO MARECHAL OSÓRIO
Tudo o que cerca a estátua de marechal Osório nos faz ter certeza de que ele foi um herói de guerra: os quadros que reproduzem grandes batalhas, as lanças, as balas e os canhões que compõem o gradil - estes, confiscados dos países derrotados pelas tropas brasileiras, quase sempre lideradas pelo marechal Manoel Luís Osório, gaúcho, que morreu em 1879, no Rio.
A homenagem a um dos maiores estrategistas do nosso Exército foi o monumento erguido na Praça XV. A obra foi possível depois de uma campanha de coleta de fundos que durou 14 anos. Daí a expectativa que havia no dia da inauguração, a 12 de novembro de 1894.
Com o Paço Imperial lotado, uma lona cobria o monumento. E qual não foi a surpresa da multidão que estava no local naquele dia quando a estátua foi inaugurada?
Para os dias de hoje, é um detalhe pequeno, mas naquela época foi um escândalo.
Seria o chapéu? O jeito de montar?
Não, eram os sapatos. Ele não está com botas de montaria, e sim com um sapato comum (foto).
Apenas a espora o identifica como um cavaleiro.
Em outras estátuas de figuras históricas na cidade isso não acontece. Dom João VI, em frente à estação das barcas, usa botas; Dom Pedro I, na Praça Tiradentes, usa botas.
Como podia um marechal, um herói de guerra, montar de sapatos? "O escultor teve que se explicar à filha do Osório que no projeto original ele estava de botas.
Mas ela rejeitou. Disse que o pai não usava botas. Ele sofrera um ferimento na perna, que infeccionara, e ele só usava calçados em recepções oficiais.
Ele lutou toda a Guerra do Paraguai descalço", conta o historiador Milton Teixeira. Como retratar um herói de guerra descalço?
Não ficaria bem. Mas o escultor Rodolfo Bernardelli, nascido no México, usou a liberdade de criação do artista, que por aqui ganhou outro nome."Usou-se o jeitinho brasileiro e colocaram-no de mocassim", revela Teixeira.
E assim o marechal Osório foi homenageado com uma estátua única.
Histórias do Rio
Reportagem: Márcio Gomes
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