UM NOVO SÍMBOLO DE EXTINÇÃO
Sagüi do Rio representa tragédia dos primatas da Mata Atlântica.
Ana Lucia Azevedo

A floresta atlântica que um dia cobriu o Vale do Paraíba já se foi quase que por completo. As árvores deram lugar a fazendas, cidades e com elas desapareceu o lar de um dos primatas menos conhecidos e agora, também, um dos mais ameaçados da Terra. O corpo escuro e a cara branca renderam ao Calithrix aurita os nomes de sagüi-da-serra-escuro ou sagüi-caveirinha. Esse último nome, dizem especialistas, parece o mais adequado para uma criatura de hábitos furtivos, um fantasma da Floresta, aparição cada vez mais rara e um dos mais recentes símbolos da extinção no Brasil.

SOBREVIVENTES DA FLORESTA ATLÂNTICA
Nativo do Rio de Janeiro e de pontos isolados de São Paulo e Minas Gerais, esse miquinho quase desconhecido do público é uma das três espécies de primatas da mata Atlântica brasileira que cientistas destacam como em maior perigo de extinção. As outras são o muriqui-do-sul (Brachyteles arachnodes) e o macaco-prego-de-peito-amarelo (Cebus xanthostemos). Enquanto que os dois últimos constam oficialmente da lista dos animais criticamente ameaçados de extinção, o caveirinha é tão desconhecido e raro que Alcides Pissinatti, diretor do Centro de Primatologia do Rio de Janeiro e um dos maiores do país, faz questão de destacá-lo. -Quase nada sabemos sobre esses animais, praticamente só o nome. E este fomos nós quem deu. Não é possível dizer nem quantos restaram na natureza - diz Pissinatti, um dos maiores especialistas brasileiros. A Mata Atlântica é um dos ecossistemas mais ameaçados e biodiversos da Terra, atrás somente das florestas de Madagascar. Dela restam cerca de 7 % mas, mesmo assim, um único hectare da mata na Bahia tem mais espécies de árvores do que Europa inteira. Sobraram manchas isoladas de mata, últimos refúgios de animais só encontrados ali. Passinatti deposita suas esperanças de salvar os primatas num programa para a Mata Atlântica elaborado por Eloi Garcia, superintendente de desenvolvimento cientifico da Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia e inovação do Rio de janeiro.

PROJETO PROMETE SALVAR ESPÉCIES
Chamado "Mapeamento caracterização, conservação e utilização sustentável da diversidade biológica da Mata Atlântica do Estado do Rio de Janeiro", o programa prevê parcerias com os ministérios do Meio Ambiente, de Ciência e Tecnologia e da Saúde para montar uma rede de pesquisa. A meta não é só inventariar o verdadeiro número de espécies de plantas e animais quanto reproduzir em cativerio e reintroduzir espécies ameaçadas. Além de três primatas, são destaque do projeto a paca e o porquinho do mato. -Sequer abemos direto o que existe na floresta e ela está sumindo. Para protegê-la é preciso conhecê-la melhor. Necessitamos da floresta para proteger nossos mananciais, garantir a biodiversidade. Além disso, o desequilíbrio ecológico está relacionado ao surgimento de doenças - diz Garcia, ex-presidente da Fiocruz e especialista em mal de Chagas, doença tropical que afeta o coração e tem elo com fatores ecológicos. No entro de Primatologiua, na estação ecológica de Paraíso, Guapimirim, Pissinatti estuda e busca reproduzir 21 espécies de micos e macacos da Amazônia e da Mata Atlântica. Dentre elas estão os micos-leôes dourado (Leontopithecus rosalia), preto (L. chrsopygus) e preto-de-caradourada (L chrysomelas), todos ainda precisando de ajuda para continuar a existir. Porém, sem as jubas vistosas dos micos leões, o caveirinha, que sempre foi raro, ruma para o desaparecimento total sem alarde, nas últimas manchas de floresta.

PRIMATAS BRASILEIROS
O Brasil é considerado o país mais rico do mundo em espécies de primatas. De acordo com estimativas mais recentes da ONG Conservação Internacional (CI), o pis abriga 29 % das espécies de primatas da Terra. Dezessete por cento de todas as espécies de primatas existem apenas no Brasil. O número exato de espécies é difícil de precisar, porque varia de acordo com o critério de classificação utilizado. Alcides Pissinatti diz que, se forem consideradas também as subespécies, o número chega a 180. O pesquisador Anthony Rylands da CI em Washington, diz que tamanha diversidade é devida ao fato de o país ter mais florestas tropicais de qualquer outro do planeta. Três das espécies brasileiras estão entre as mais ameaçadas da Terra: muriqui, mico-leão-de-cara-preta, e o macaco-prego-de-peito-amarrelo.

FONTE: Ana Lucia Azevedo; O Globo Ciência e Vida, 11 de Abril de 2004.

NOTA: Surpreende a este Guia da Floresta tanto comentário da "raridade" e "dificuldade" que significa ver um Sagüi!!! . Nós os observamos na Foresta, nas Ilhas, no Pão de Açúcar!! Mas é ai quando devemos escutar aos especialistas quando estudam desde outros pontos de vista. Para a gente, um visitante quotidiano. Para o Rio, o Brasil, um animal em perigo de extinção. Também foi impressionante ler "Nativo do Rio de Janeiro e de pontos isolados de São Paulo e Minas Gerais, esse miquinho quase desconhecido do público", pois eu o tinha como nativo da Bahia e introduzido no RIO, e nunca, acho, para um Carioca ou morador do Rio, até para turistas, quase desconhecido!

GERARDO MILLONE-2004








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