ORIGEM DA PALAVRA “GRINGO”
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Como os mexicanos costumam (ou costumavam) chamar os norte-americanos de gringos, nada mais natural, para os ingênuos etimólogos amadores daquele país, que imaginar que a palavra tivesse sido criada especialmente para eles.

Para uns, delirantes, as tropas estado-unidenses que entraram na guerra méxico-americana, na primeira metade do séc. XIX, usariam uniformes predominantemente verdes ("green", em Inglês), o que propiciou aos mexicanos enfurecidos a oportunidade de gritar "Green, Go!" (/grin go/), algo assim como um improvável "Vão [embora], Verdes" - felizmente substituído, no séc. XX, pelo tradicional "yankees, go home".

Outros preferiram seguir uma vereda musical, mas não menos delirante: segundo esta versão, os soldados de Tio Sam, prenunciando assim o famoso Coro do Exército Vermelho, da extinta URSS, costumavam cantar em uníssono, à volta das fogueiras do acampamento, uma canção muito em voga na época, cujo refrão era "Green grow the lilacs"; ora, nada mais natural que os nativos passassem a usar a designação pejorativa de "green grow" (/gringro/) para aqueles surrealistas soldados cantores.
Daí para /gringo/ era um pequeno passo.

O que esses lingüistas de meia-tigela não fizeram foi dar uma olhadinha num bom "amansa-burro" em Espanhol.

O Dicionário da Real Academia Espanhola (o vetusto DRAE) ensina que o termo gringo está documentado desde 1787, meio século, portanto, antes das hostilidades entre o México e os EUA. Gringo seria uma corruptela de griego ("grego"), usada para designar qualquer língua exótica e difícil de entender.

Com o tempo - que é o pai dos significados -, passou a indicar também o falante dessas línguas incompreensíveis.

Segundo o DRAE, em Málaga o termo designava qualquer estrangeiro que tivesse dificuldade com a língua espanhola, enquanto em Madri era usado especificamente para os irlandeses.

Essa explicação, além de estar registrada em documentos literários, apresenta uma lógica mais aceitável.

Afinal, a utilização do Grego como uma metáfora para o estranho e o incompreensível vem de muito longe: a expressão "graecum est, non legitur", ou "graeca, non leguntur" (algo assim como "é grego; não pode ser lido"), era usada pelos eruditos da Idade Média como anotação às passagens escritas em Grego que encontravam nos textos latinos, já que, como é sabido, o Grego praticamente não era lido, nem conhecido pelos autores da Igreja medieval.

Assim mesmo, eu a aceito cum grano salis - assim, "grano" ("Com uma pedrinha de sal", o que significa, em vernáculo, "com um pé atrás"), porque ainda não vejo muito bem como, fonologicamente, /griego/ possa ter se transformado em /gringo/.

De /griego/ para /grigo/ não é difícil, porque o mesmo parece ter acontecido em /priessa/:/prisa/ ("pressa"); resta explicar como surgiu aquela nasalização do /i/, o que, espero, alguém há de fazer (se é que já não fez).

O significado de gringo tem variado de lugar para lugar; o excelente Houaiss registra que, no Brasil, o termo se aplica a "indivíduo estrangeiro, especialmente quando louro ou ruivo, diferente do padrão mais encontradiço no país", ou, com conotação mais pejorativa, a qualquer indivíduo estrangeiro, especialmente quando não fala o Português. Carlos Teschauer, no Novo Dicionário Nacional, define gringo como o estrangeiro em geral, menos o português e o hispano-americano.

No Rio Grande do Sul, cuja linguagem conheço muito bem, é usado especialmente para os italianos e seus descendentes, e imagino que, em outras regiões, possa referir-se a outras etnias.

Se essa não é a "verdadeira origem" do vocábulo, como querias, meu caro Hugo, é ao menos a mais provável até hoje.

Prof. Cláudio Moreno

FONTE: http://www.sualingua.com.br
Vale a pena visitar o maravilhoso site do professor CLÁUDIO MORENO.



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